RESISTIR, PERSISTIR E EXISTIR

ANDERSON COELHO, BETO CASTRO, CLAUDIO LOBO, DARIANE MARTIÓL, DIEGO OLIVEIRA, DIORGENES PANDINI, FER LUZ E GUI COLOSIO, FERNANDO JORGE, HANA BRENER, MAMARTIN, MATEUS MORBECK, MELISSA WARWICK, MONICA PAES, NINO REZENDE,

PATRÍCIA VIEIRA, RIVO BIEHL, ULLA VON CZÉKUS, VALDIR MACHADO NETO, VERÔNICA GAZOLA e ZÉ RONCONI

 

Curadoria: Ana Soukef, Flavio Fernandes, Marcelo Fernandes e Lucila Horn

 

A fotografia pulsa
a vida ainda pulsa.

 

Um festival adiado e que se lança em um novo formato, em meio a um mar de incertezas, indignação, retrocessos políticos e aproximadamente 500 mil vidas perdidas para a Covid-19 no país. Vidas que, em grande parte, poderiam ter sido poupadas.
Mas, “Pare. Respire. Pense.” - é isso que nos propõe o trabalho de Melissa Warwick. Há algo em suspenso e uma atmosfera de espera, quase como se alguém dissesse: “Perca o sono, mas não a esperança. Outro dia virá. Pare. Respire. Pense”. 
Diorgenes Pandini, em “Não tires de mim”, reflete sobre a potência da fotografia como um lugar de procura e de reencontro com algo que é nosso, mas que não perceberíamos se não fossem as lentes e as imagens. Por isso, sempre vamos à procura. Procura que, para Patrícia Vieira, está em “Olhar para o passado com os pés no futuro”, pois não é possível seguir adiante ignorando o legado da história. 
É como sujeitos históricos que nos constituímos no corpo coletivo e na subjetividade individual. E Monica Paes aborda a observação de nossos outros “eus”, atrelada à dor de não nos pertencermos, nos jogos e troca de papéis que a realidade da vida nos impõe. Nessa dualidade, para a autora, ser observador de si é ter a resposta que buscamos. Tarefa difícil e necessária, olhar para si e para o outro, questão que transborda do trabalho de Nino Rezende, um relato visual da luta LGBT no Brasil, país que mais mata pessoas LGBTs no mundo.   
Desta luta e vida que se entrelaçam, Dariane Martiól explicita um “Autorretrato Infamiliar”, no qual apresenta os corpos, dela própria e de sua mãe, dentro do espaço doméstico, abordando algo que não é propriamente desconhecido, mas que está permeado pelo desconforto. Também sobre mulheres, Hana Brener nos traz a série “colheres”, criando equivalentes para pensar sobre a colher e as mulheres. As colheres de pau, condenadas, taxadas como anti-higiênicas, sujas... Mulheres e colheres, que no cerne do calor do fogo, resistem.
Beto Castro compartilha a história de luta de uma “Herdeira”, que enfrentou autoridades e vizinhos para preservar uma antiga propriedade, impedindo o sepultamento de histórias e memórias. Este sentimento também emerge no ensaio fotográfico “Lágrima”, de Fernando Jorge, que aborda os rastros de presença da cidade de Jaguaribara (CE), inundada para a construção de um açude e que, a partir da seca, viu emergir pequenos pedaços da pretérita cidade. Morada é memória.
Morada também é dignidade, é o que nos traz o documento fotográfico de Anderson Coelho, em seu ‘Breve relato do “Marielle”’, uma abordagem sobre as pessoas que vivem em precárias condições na capital de Santa Catarina.  Também com a sensibilidade de um olhar para a desigualdade, Claudio Lobo se vale de uma única imagem para afirmar que sim, é preciso “resistir, persistir e existir” e manter-se vivo, mesmo sob condições adversas. 
Em "Imágenes de repetidos naufragios", Mamartin apresenta uma série de fotografias de uma fábrica abandonada próxima a Buenos Aires, e a presença daqueles que seguem empenhados em superar seus sucessivos abandonos e naufrágios. Trabalhadores que, com sua resistência, nos mostram a lição que parecemos empenhados em não aprender.
A ambição e a exploração sem limites dos recursos naturais nos levará a uma “Água sem Vida”. Este é o assunto do trabalho de Zé Ronconi, que aborda a exploração do carvão mineral no sul do estado de Santa Catarina. Nesse caminho, Valdir Machado Neto faz um micro-inventário que ilustra episódios da intervenção do Homem na história natural do planeta, refletindo sobre uma situação “Limite”, onde o Homem tenderá a zero frente ao poder catastrófico da natureza.
Mateus Morbeck nos lembra que “Esquecemos de aprender”, criando um paralelo com eventos do passado e atuais para questionar a eterna repetição da história. A linearidade do tempo também é uma indagação no trabalho de Diogo Oliveira, “Zona de Conforto”, um tríptico sobre as aflições do isolamento.  
Em “Phisys” Rivo Biehl se detém no movimento constante da natureza, inclusive nos movimentos que mal percebemos existir, mas do qual somos parte. Tal como na série “Eu sou parte do todo”, na qual Ulla von Czékus discute a esquecida integração entre humano e natureza. Temática que se faz presente também nos “Portais”, de Verônica Gazola, onde a autora propõe ouvir ao chamado de reconexão com a natureza, que sussurra baixinho nos nossos ouvidos: “Tudo o que é vivo pulsa em conjunto”. 
Esse pulsar conjunto se transforma em “Ideia”, nas fotografias da dupla Fer Luz e Gui Colosio, que abordam a potencialidade do processo coletivo a partir da percepção da presença e da relação com o outro. 
 
Ana Soukef e Lucila Horn